domingo, 22 de julho de 2012

PAULO AFONSO

Paulo Afonso foi escolhida para a viagem , pois é a cidade de origem de um dos entrevistados de Tiquatira que eu mais gostei, das entrevistas mais emocionantes: Sr. Adauto, que contribuiu na construção das várias barragens que foram feitas no Rio São Francisco durante as décadas de 70 e 80. Ele passava a semana acampado no canteiro de obras e voltava aos fins de semana para seu povoado Mulungu, situado no entorno de Paulo Afonso. Ele me contou como era a cidade em sua época e eu fui buscar o saber onde eram os lugares que ele me relatou. Para minha surpresa, esse povoado hoje não só foi incorporado à cidade, como mudou de nome e é a entrada da cidade! Fiquei emocionada ao lembrar de seus relatos, ao comparar a memória e a realidade.  Adauto me contou que se tivesse condições, ele voltaria e daria emprego e estrutura para todos. Será que essa estrutura já existe, será que a cidade já suportaria essa migração de retorno? Mas voltar é caro, a pessoa precisa estar em condições financeiras razoáveis em São Paulo, por isso que muitos dos que entrevistei nunca voltaram ou mesmo nunca mais falaram com os familiares e amigos que ficaram.

Adauto, morador de Tiquatira que veio de Paulo Afonso

Paulo Afonso é bonita! Cheia de praças bonitas! Barulho e movimentação de cidade grande. Me pareceu uma cidade acolhedora... É uma cidade envolvida, ilhada pelas águas das barragens feitas na região. Parece que estamos à beira do mar! Conhecer a hidrelétrica da CHESF é uma das principais atividades do turismo da cidade! A partir dessas barragens é que a cidade se desenvolveu. Pegamos um guia com carro, fusca conversível,  e fomos visitar a hidrelétrica de Paulo Afonso! Um projeto impressionante, tudo muito bem pensado e projetado. Da represa e hidrelétrica ao edifício e parque, que é muito usado pela população aos fins de semanas! É lindo, um cenário impressionante e um projeto incrível, tudo muito amarrado. Há uma torre de elevador que leva ao mirante ou à casa de máquinas. Por todo o percurso se avista o cânion do São Francisco.

Vista da cidade de Paulo Afonso

Casa de máquinas da usina hidrelétrica de Paulo Afonso

Barrangem da usina gerida pela CHESF

Vista para o cânion do Rio São Francisco, onde fica a barragem

A partir desse passeio, conversando com o guia sobre meu trabalho, fomos levados por ele a uma ONG que trabalha com cooperativas de agricultura de sequeiro.  Foi escutar o outro lado da moeda de tudo o que escutei em Juazeiro e Petrolina. Algumas idéias começaram a encaixar.


Resquícios da festa de São João desse ano em Paulo Afonso



quinta-feira, 19 de julho de 2012

JUAZEIRO - PETROLINA

Começamos a viagem por Petrolina - Juazeiro por ser um polo desenvolvido importante para a região do Semi Árido, por haver diversos projetos em relação ao desenvolvimento econômico regional, tendo bases da EMBRAPA, da CODEVASF, e de grandes médias e pequenas fazendas produtoras de uva e manga para exportação.



    plantação de uva em larga escala

   empacotamento das frutas

A cidade de Petrolina se desenvolveu muito com a agricultura irrigada e a cidade reflete esse desenvolvimento. É bem cuidada e possui algumas boas universidades, ao contrário de Juazeiro, que é um pouco degradada. Daí deve, ou talvez também por outros fatores da história que desconheço, existe uma rivalidade entre ambas. Apesar de apenas um rio as separar, Juazeiro e Petrolina são muito diferentes entre si até mesmo no sentido de pertencimento por seus moradores. 

http://www.youtube.com/watch?v=wv8lNrTXB4Q (O CIÚME, POR CAETANO VELOSO)

   de petrolina, a vista de juazeiro.

Em Petrolina fomos ao bodódromo, uma praça cheia de restaurantes que servem bode de todas as maneiras! É muito legal e típico da cidade!


Em relação ao meu trabalho, nessa primeira parada da viagem conversei com muitos especialistas envolvidos em projetos para o semi-árido, com opiniões diversas e até mesmo opostas sobre o que se poderia desenvolver no sertão como uma saída econômica, garantisse ao homem a possibilidade de ficar em sua terra ao invés de migrar.
Visitei desde grandes fazendas de exportação de frutas que produzem do adubo para a plantação ao suco; fazendas de produtores familiares com irrigação com a mais alta tecnologia desenvolvida ultimamente (tecnologia em parte importada de Israel e adaptada para esse sistema); até uma associação de artesãos ou uma tradicional casa de farinha, onde se produz todos os produtos a partir da mandioca. Neste última, a EMBRAPA fazia um trabalho de mínima intervenção nessa tradição de processo com o intuito de dar melhores condições de trabalho ao mecanizar alguns processos e dar verba para uma melhor higiene e também visando a proteção do meio ambiente ao coletar um líquido tóxico que sai da mandioca ao se fazer a tapioca. Como se pode ver, visitei coisas muito opostas.






    casa de farinha 


    líquido tóxico que sai quando se espreme a mandioca. quando decanta, o que resta vira a goma da tapioca









Ao conversar em algumas instituições sobre a saída pelo modo de produção coletiva, como cooperativas e associações, não fui muito estimulada. Disseram que lá nenhuma deu certo. Achei tudo muito estranho... depois de ir à Casa da Farinha, pensei que não era possível que o processo coletivo não desse certo! Ali era um exemplo muito objetivo de que ele dá certo. Bastava saber se em um processo produtivo a coletividade daria certo, pois a casa da farinha se trata de uma tradição para consumo de subsistência e o que excede se vende. Desta forma, saí de Petrolina- Juazeiro com o intuito de visitar várias cooperativas que tinha escutado a respeito nas cidades seguintes.








terça-feira, 17 de julho de 2012

a viagem!




   O roteiro inicial da viagem, que já sofreu algumas modificações:




Em breve, posts sobre nosso trajeto e as experiências em cidade! E pra finalizar hoje, um vídeo o valor único de cada lugar, cada cidade e sua especificidade, no melhor sentido da palavra! aqui chamado de "economia criativa".

https://www.youtube.com/watch?v=dd0j3O803SY&feature=player_embedded

o sertão em tiquatira


Encontrei o sertão em Tiquatira. Na forma de viver, nas comidas, nos hábitos, no sotaque, na forma de construir a casa. É uma tentativa de reprodução do que se entende por viver, talvez por conta de uma marginalidade urbana, a não inserção na cultura da cidade e de tudo o que ela pode oferecer. Uma exclusão física e socio-econômica. Este é um sertão miserável, triste, muitas vezes diferente do que se passa nos locais de origem, que por mais pobre que seja, há identidade, muita força, vida coletiva, espaços coletivamente habitados, muita vida nas ruas e nas praças, o campo. A qualidade de vida é melhor, isso não sou eu quem digo, mas os próprios migrantes ao justificar o porque do desejo de voltar.

O trabalho, que na primeira etapa foi um projeto feito em grupo na área de Tiquatira, se desenvolveu em torno da necessidade da habitabilidade no espaço público e de que forma um espaço com esse caráter pode promover uma inclusão social, através da formação da população onde se dá essa intervenção, junto da produção e geração de renda. Logo, o que se propõe é um espaço no qual se sobrepõe trabalho e moradia, cujo produto final é a convivência, difrente do que se observa na Zona Leste de São Paulo hoje em dia.


O programa na cooperativa é flexível. Os materiais podem variar e o ensino da técnica também. No entanto, o importante é a relação que queremos criar entre morar-estudar-trabalhar-divertir, ou seja, construir habitabilidade. Entendemos que um programa no qual depende da apropriação das pessoas é onde a cultura e relação coletiva pode-se desenvolver plenamente. O sertão não está só na estética da fachada e nos programas os quais poderiamos encontrar em Tiquatira: artesanatos, comidas, etc, mas está também na relação entre as pessoas e o espaço, e como um espaço flexível pode valorizar e potencializar o sertão na região. Alguns exemplos são o espaço público das casas e o redário na cooperativa; um pátio de encontro e uma quadra de futebol; ou até nos espaços de criatividade gerados pelo canteiro experimental, onde as pessoas podem expressar sua bagagem cultural diretamente, produzindo objetos, painéis, móveis, e até a própria casa.

um breve relato sobre o trabalho


O trabalho se resume na questão da migração nordestina em São Paulo e o retorno às cidades de origem. Como transformar essas cidades para que recebam os esses deslocamentos da maneira digna, tendo o intuito também de fazer com que o cidadão crie vínculo com o lugar, saindo dessa condição de permanente provisório que tem por exemplo a favela, e ainda possibilitando a escolha de qual cidade se quer morar, não por necessidade, mas por desejo.

Através de entrevistas com moradores na favela de Tiquatira, Itaquera-SP, verificou-se que as cidades de origem eram em sua maioria situadas no sertão brasileiro, isto quer dizer, que vinham do interior do Norte/Nordeste do Brasil. O impressionante foi que se constatou que uma grande parte dos entrevistados voltaria para sua cidade de origem, pois veio para São Paulo por necessidade. Em muitos casos, a pessoa tinha planos concretos de voltar, alguns deles já a poucos dias ou meses antes da partida certa para o Nordeste, onde tentariam a vida novamente. Os destinos também eram para as cidades de origem, mas muitas vezes para outras um pouco maiores, com mais infraestrutura e eventualmente com mais garantias de trabalho. Foram abordados também as questões dos motivos de idas e voltas, das diferenças da vida daqui e da cidade de onde vieram, dos costumes mantidos ou não ao longo das gerações já nascidas em São Paulo.

A partir deste link teórico, verificado na prática, foram desenvolvidos dois trabalhos: o projeto Tiquatira e o projeto no sertão da Bahia, em que cinco cidades de origem do moradores de Tiquatira foram escolhidas como estudo de caso para se pensar nas condições do sertão e nas potencialidades econômicas da região, que possibilitariam uma rede entre elas.

A idéia é criar um sistema econômico entre essas cidades (e possivelmente outras) para que elas se alto sustentem e dêem condição do cidadão escolher onde quer morar,  em sua cidade ou qualquer outra, mesmo em São Paulo. Isso porque geralmente as pessoas “voltam” para cidades médias e não necessariamente para cidades de origem, que são menores e não têm tanta infraestrutura.

A cidade de Xique Xique foi escolhida como foco do estudo, em que dentro dessa rede, se pensará em como dentro de um Plano Diretor (que atualmente é inexistente na cidade) serão estimuladas as atividades socio-econômicas e culturais do município. Também, em se tratando de um projeto deste caráter arquitetônico e urbanístico, deve-se pensar em diretrizes para o crescimento da cidade e o controle do mesmo, já que este movimento de retorno foi constatado. Este desenvolvimento da cidade vai prever zoneamentos, estruturas urbanas, e equipamentos/edifícações que organizariam a atividade produtiva da cidade, ligados a pesca, a agricultura e até mesmo o turismo. Deve-se conscientizar a população neste processo sobre o valor da cultura e do local de onde vem suas raízes.