Encontrei o sertão em Tiquatira. Na forma de viver, nas comidas, nos hábitos, no sotaque, na forma de construir a casa. É uma tentativa de reprodução do que se entende por viver, talvez por conta de uma marginalidade urbana, a não inserção na cultura da cidade e de tudo o que ela pode oferecer. Uma exclusão física e socio-econômica. Este é um sertão miserável, triste, muitas vezes diferente do que se passa nos locais de origem, que por mais pobre que seja, há identidade, muita força, vida coletiva, espaços coletivamente habitados, muita vida nas ruas e nas praças, o campo. A qualidade de vida é melhor, isso não sou eu quem digo, mas os próprios migrantes ao justificar o porque do desejo de voltar.
O trabalho, que na primeira etapa foi um projeto feito em grupo na área de Tiquatira, se desenvolveu em torno da necessidade da habitabilidade no espaço público e de que forma um espaço com esse caráter pode promover uma inclusão social, através da formação da população onde se dá essa intervenção, junto da produção e geração de renda. Logo, o que se propõe é um espaço no qual se sobrepõe trabalho e moradia, cujo produto final é a convivência, difrente do que se observa na Zona Leste de São Paulo hoje em dia.
O programa na cooperativa é flexível. Os materiais podem variar e o ensino da técnica também. No entanto, o importante é a relação que queremos criar entre morar-estudar-trabalhar-divertir, ou seja, construir habitabilidade. Entendemos que um programa no qual depende da apropriação das pessoas é onde a cultura e relação coletiva pode-se desenvolver plenamente. O sertão não está só na estética da fachada e nos programas os quais poderiamos encontrar em Tiquatira: artesanatos, comidas, etc, mas está também na relação entre as pessoas e o espaço, e como um espaço flexível pode valorizar e potencializar o sertão na região. Alguns exemplos são o espaço público das casas e o redário na cooperativa; um pátio de encontro e uma quadra de futebol; ou até nos espaços de criatividade gerados pelo canteiro experimental, onde as pessoas podem expressar sua bagagem cultural diretamente, produzindo objetos, painéis, móveis, e até a própria casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário